Explosão em apartamento de coronel: perícia identifica 19 kg de pólvora e 3,9 mil cápsulas intactas no imóvel
16/07/2024
(Foto: Reprodução) Laudo não aponta categoricamente os itens como possíveis causadores da explosão, no entanto, deixa claro que são substâncias "extremamente sensíveis". Defesa crê em inocência do acusado. Perícia encontra 19 kg de pólvora em apartamento de coronel atingido por explosão
Uma perícia feita pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no material aprendido no apartamento que explodiu em Campinas, em fevereiro deste ano , identificou ainda intactos 19 quilos de pólvora e 3.988 cápsulas de ignição, substâncias explosivas usadas para recarregar munições. Investigadores suspeitam que os produtos possam ter causado o incidente.
A explosão seguida de incêndio aconteceu no dia 24 de fevereiro deste ano no apartamento do coronel reformado Virgílio Parra Dias. Ao todo, 44 pessoas que estavam em andares superiores foram retiradas do prédio, parte delas por meio de cordas.
Material apreendido no apartamento do coronel que foi enviado para perícia no Gate
Reprodução
O militar tinha licença de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) para manter 86 armas. A Polícia Civil e o Exército investigam, no entanto, se havia um excedente ilegal no local.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o 1º Distrito Policial (DP) de Campinas vai analisar os laudos e mantém diligências para concluir a investigação.
Advogado que representa o coronel Parra Dias, Fernando Capano defende que "não há evidência fechada, no crivo do contraditório, de que havia pólvora na quantidade mencionada".
"O material é consumível com bastante frequência pela pessoa que manuseia quantidade substancial de armamento (permitido). Isto será portanto objeto de análise mais aprofundada, no momento oportuno", afirmou Capano, em nota.
Na perícia, à qual o g1 teve acesso nesta terça-feira (16), o Gate aponta que o material intacto no apartamento estava ativo e oferecia risco, no entanto, investigadores ainda aguardam o laudo da Polícia Científica para saber se havia mais produtos no local que eventualmente possam ter sido consumidos pelo fogo.
O advogado do coronel afirma, ainda, que acredita na inocência do investigado. "Trata-se de um infeliz acidente, não havendo que se falar em qualquer tipo de responsabilidade na esfera criminal ou cível, conforme se provará ao longo da regular instrução probatória, na lógica do devido processo legal".
"A segurança do local onde se encontravam as armas foi prévia e regularmente verificada pelo Serviço Federal de Produtos Controlados, do Exército Brasileiro, por ocasião das fiscalizações no local. Ainda, é preciso considerar que o local continha porta de acesso blindada, tudo em conformidade com as exigências legais", diz o Capano.
Pólvora química
Pólvora apreendida em apartamento de Coronel
Reprodução
Os 19,06 kg de pólvora encontrados intactos estavam distribuídos em 25 embalagens, incluindo as originais de fábricas e também em potes de plástico e recipientes de achocolatado em pó.
"Tratam-se de substâncias explosivas, apresentadas em “grãos” e “lâminas”, fabricadas a base de NitroCelulose, Etil Centralite e Sulfato de Potássio".
Pólvora encontrada em embalagem de achocolatado em pó no apartamento de coronel
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Segundo o Gate, a pólvora é um material bastante sensível ao calor e atrito "gerando, em qualquer que seja sua forma de armazenamento, elevado grau de risco".
"A utilização incorreta dos componentes explosivos descritos (pólvora e espoletas) poderia acarretar lesões queimaduras graves em pessoas de posse ou contato direto com o material Explosivo no momento de sua Combustão/Deflagração", dizem os peritos.
Capsulas de ignição
Espoletas de ignição apreendidas no apartamento do coronel
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As 3.998 espoletas de ignição, de diversas marcas nacionais e estrangeiras, estavam guardadas em caixas de papelão e sacos plásticos.
"É constituída de uma cápsula metálica contendo no seu interior misto iniciador de alta sensibilidade (Estifinato de Chumbo ou Azida de Chumbo), destina-se principalmente para montagem de cartuchos de armas de fogo de diversos calibres, tendo como finalidade a ignição de pólvoras".
Espoletas armazenadas em embalagem plástica
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Para que serve o material?
O advogado criminalista João Paulo Sangion explicou que as pólvoras e as espoletas são utilizadas pelos atiradores para recarregar as munições. O espoleta funciona como uma espécie de ignição da pólvora e a pólvora como um material combustível.
"É permitido aos CAC's e aos clubes manter insumos (pólvora, espoleta, estojo, projétil e equipamento de recarga) para que recarreguem suas próprias munições, cuja permissão advém do artigo 82 da Portaria COLOG 166 de 2.023", disse Sangion ao g1.
Causa da explosão?
O laudo do Gate não aponta categoricamente a pólvora e as espoletas como causadores da explosão no apartamento, no entanto, deixa claro que a pólvora é uma substância "extremamente sensível ao calor, independente da fonte de origem". E ressalta que as espoletas são compostas por explosivos igualmente sensíveis.
"Mistos iniciadores ou ignitores empregados na fabricação de espoletas, normalmente são compostos a base de explosivos primários (extremamente sensíveis), oxidantes, combustíveis sólidos e atritantes", diz o laudo.
Armas encontradas em meio aos escombros de apartamento de coronel do Exército em Campinas (SP)
Arquivo pessoal
Granadas estavam inativas
O g1 revelou em maio que as duas granadas encontradas no apartamento do coronel reformado não ofereciam risco de explosão e que, por isso, investigadores suspeitam que a pólvora possa ter causado as explosões.
O caso é investigado pelo 1º Distrito Policial (DP) de Campinas, que aguardava, até a última atualização, a chegada de todos os laudos do Instituto de Criminalística - responsável pela perícia do incêndio e das armas. Só depois disso ouviria formalmente o militar da reserva.
Armas em grande quantidade
Apartamento com munições que pegou fogo em Campinas e armas de coronel
Defesa Civil e Arquivo Pessoal
O g1 revelou no mês passado que investigadores suspeitam que havia no apartamento mais armas do que o autorizado pelo Exército. O coronel havia autorização para 86 armas, porém, após o incêndio, a polícia encontrou 112 armas e carcaças no imóvel, entre pistolas, revólveres, fuzis, espingardas e garruchas. Esse número, no entanto, ainda precisa ser confirmado em laudo pericial.
Relembre o caso
Imagens mostram como ficou apartamento de coronel que guardava arsenal de armas em casa após incêndio
Segundo a perícia, o incêndio começou no cofre do coronel a partir da explosão de um artefato. Ao todo, 44 pessoas que estavam em andares superiores foram retiradas do prédio, parte delas por meio de cordas, em uma manobra semelhante à técnica de descida em rapel.
Após o incêndio, a polícia encontrou 112 armas e carcaças de armas no imóvel, entre pistolas, revólveres, fuzis, espingardas e garruchas, além de granadas. Esse número, no entanto, ainda será confirmado por laudo pericial da Polícia Científica.
Essa confirmação é necessária, segundo a Polícia Civil, uma vez que parte do armamento estava queimado e, por isso, a contagem pode ter sido imprecisa durante a apreensão.
Aposentado como general
O coronel da reserva Virgílio Parra Dias, de 69 anos
JN
Virgílio Parra Dias, de 69 anos, é coronel aposentado e instrutor de tiro. Segundo o Exército, o militar possui certificado de registro válido como atirador, caçador e colecionador (CAC) e tinha licença para manter 86 armas no imóvel, mas a Polícia Civil vai investigar se havia excedente ilegal no arsenal.
O nome do coronel também consta como um dos responsáveis por um clube de tiro em São Paulo (SP). Nascido em 21 de abril de 1954, o coronel frequentou a Academia Militar das Agulhas Negras, escola de ensino superior do Exército que fica no Rio de Janeiro, entre 1977 e 1980.
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